Quando eu era criança, o que mais me chamava atenção nas camisetas dos grandes clubes de futebol eram os patrocinadores. Bancos, marcas de automóveis, cervejarias… era como se cada time tivesse um padrinho tradicional.
Mas hoje, se você reparar bem, há uma nova geração de nomes estampados nas camisas. Nomes que talvez seu avô nunca tenha ouvido falar, mas que vêm mudando o jogo, literalmente. Estou falando das criptomoedas.
O surgimento de um novo jogador no mercado
Foi mais ou menos em 2020 que comecei a perceber uma mudança concreta. De repente, tokens, exchanges e projetos ligados a blockchain passaram a ocupar espaços antes dominados por marcas mais conservadoras.
Não foi uma substituição abrupta, claro, mas um movimento bem estratégico, quase silencioso, como aquele meia habilidoso que não corre muito, mas dita o ritmo do jogo.
Empresas como a Crypto.com, a Binance e a Socios.com começaram a se infiltrar nos bastidores do futebol mundial. Em pouco tempo, estavam fechando acordos multimilionários com clubes, campeonatos e até seleções nacionais. Mas o mais interessante é que esse novo tipo de patrocínio não se limita apenas a colocar um logo na manga da camisa.
Patrocínio ou parceria?
Se tem uma coisa que o mercado cripto entendeu muito bem foi que a conexão emocional do torcedor com o time é algo poderoso.
Diferente dos modelos tradicionais, onde o patrocínio é basicamente uma troca de visibilidade por dinheiro, as empresas de cripto vieram com uma proposta mais ousada: envolver o torcedor de verdade.
Quando vi a Socios.com criando os “fan tokens”, confesso que fiquei curioso. E, claro, fui atrás. Esses tokens não eram só colecionáveis digitais. Eles permitiam que o torcedor participasse de decisões dentro do clube, como a música que toca no estádio, o design do ônibus oficial, e até uniformes alternativos.
Pode parecer simples, mas isso cria uma sensação de pertencimento que muda completamente a dinâmica do patrocínio.
A verdade é que não estamos mais falando apenas de empresas que querem se promover. Estamos vendo parcerias de construção de comunidade, onde o torcedor deixa de ser só um espectador e se torna, de alguma forma, um participante.
O poder do storytelling: torcedores como protagonistas
O futebol sempre viveu de histórias. Desde aquele gol aos 45 do segundo tempo até a ascensão de um clube pequeno que vence os gigantes. E o que as criptomoedas trouxeram foi um novo enredo dentro desse universo: o da transformação digital e do empoderamento do fã.
Me chamou muito a atenção o caso do PSG, quando contratou Lionel Messi. Além do impacto esportivo, o clube usou a oportunidade para pagar parte do bônus de boas-vindas do jogador em fan tokens. Isso não foi só uma jogada de marketing, foi uma mensagem clara de que o clube estava entrando de cabeça na nova economia digital.
Essa narrativa, de inovação, de inclusão e de disrupção, acaba tocando em pontos que ressoam fortemente com as novas gerações de torcedores. A juventude de hoje não quer apenas torcer. Quer interagir, influenciar, investir. E isso muda tudo.
Desafios e resistências no meio do campo
Claro, nem tudo são flores nesse novo cenário. Quando comecei a estudar mais a fundo essa relação entre cripto e futebol, percebi que há também muita desconfiança envolvida. Afinal, o universo das criptomoedas ainda é visto por muitos como um terreno instável, cheio de riscos e volatilidade.
Houve casos em que tokens de clubes desvalorizaram drasticamente, deixando torcedores frustrados.
Outros em que empresas que patrocinaram times acabaram enfrentando problemas legais ou mesmo desaparecendo do mapa. Isso gera uma certa resistência, especialmente entre torcedores mais tradicionais e conselhos administrativos dos clubes.
Mas, ao mesmo tempo, vejo que essa tensão é parte do processo de amadurecimento. Toda grande mudança começa com desconforto. E o futebol, embora seja apaixonado por suas raízes, também sabe se reinventar.
O impacto financeiro no jogo
Não dá para ignorar o aspecto financeiro dessa revolução. Quando os clubes enfrentaram a crise da pandemia, muitos viram nas criptos uma tábua de salvação. As receitas com bilheteria despencaram, contratos foram renegociados, e foi nesse momento que os acordos com empresas cripto começaram a se multiplicar.
Essas empresas chegaram com fôlego e disposição para investir alto. Clubes que antes estavam lutando para fechar o orçamento do ano passaram a ter novas fontes de renda. E mais do que isso: passaram a se posicionar como marcas inovadoras, alinhadas com o futuro.
Foi o que aconteceu com times como o Atlético de Madrid, a Juventus e o próprio Barcelona. Todos eles fecharam parcerias importantes que vão além do dinheiro: estão construindo pontes com um novo perfil de torcedor global: mais digital, mais conectado, mais exigente.
Cripto e futebol: um casamento com futuro?
Se me perguntassem há cinco anos se eu imaginava esse tipo de relação entre cripto e futebol, provavelmente eu daria uma risada. Mas hoje, sinceramente, acho que estamos só no começo. O potencial dessa união é enorme, especialmente se for construída com responsabilidade, transparência e foco no torcedor.
O metaverso, os colecionáveis digitais (NFTs), os jogos de fantasia baseados em blockchain… tudo isso está se conectando ao futebol de formas criativas.
E os clubes, se souberem usar bem essas ferramentas, podem não só aumentar sua receita, mas criar experiências mais ricas e memoráveis para os fãs.
O que eu aprendi observando essa transformação
Depois de mergulhar nesse assunto, o que mais me marcou foi perceber que estamos vivendo uma mudança de era. A relação entre o torcedor e o clube está se tornando mais participativa, mais direta e mais emocional. E isso está sendo impulsionado, em grande parte, pelas criptomoedas.
Claro, é preciso ter cuidado. Como em qualquer inovação, existem riscos. Mas também existe uma oportunidade incrível de reinventar o futebol como o conhecemos. E, no fim das contas, é isso que sempre manteve esse esporte tão vivo: a capacidade de se adaptar sem perder sua essência.